O Corpo Físico Ajuda, Ou Atrapalha?
Pergunta:
Na caminhada espiritual, o corpo físico é um instrumento útil, ou um obstáculo e fonte de ilusões?
Comentário:
O corpo físico é como uma tela neutra em que se imprimem os erros e os acertos, os fracassos e os progressos da alma mortal. Na mesma tela estão presentes as ilimitadas possibilidades positivas da alma imortal. Portanto, o corpo físico não é nem um obstáculo, nem uma garantia, em si mesmo, para o progresso espiritual.
Ele será instrumento de sofrimento ou de libertação, conforme for utilizado. Porque ele não passa de uma ferramenta. Essencialmente, ele não tem demandas “suas”. Tudo dependerá do carma e dodharma; da ignorância ou da sabedoria da alma que anima o corpo, isto é, da alma que faz com que ele viva e se mova.
O corpo físico é um espelho, e de nada serve reclamar do espelho. É muito melhor examinar o que está sendo refletido no espelho e tomar providências para que os erros sejam corrigidos. Quando a alma tem equilíbrio, a tendência é que o corpo tenha uma saúde razoável: “mente sã em corpo são”.
Pergunta:
Mas o corpo é algo superior e sagrado, ou inferior e desprezível?
Comentário:
Quando usado adequadamente, o corpo humano – sthula sharira em sânscrito – é considerado pela filosofia esotérica um templo sagrado. Usá-lo de modo errado é uma falha grave, do ponto de vista espiritual e cármico [1] .
Assim como a filosofia pitagórica, a Raja Ioga ensina que o corpo físico de um ser humano contém as chaves para que a consciência individual alcance e compreenda a lei do universo. O feto e a criança humana recapitulam inconscientemente a história da vida no planeta terra, como ficamos sabendo pelo estudo de “A Doutrina Secreta” , de HPB, e das “Cartas dos Mahatmas”.
Os chacras, os centros energéticos situados ao longo da coluna central do corpo humano, são a escada de Jacó que liga céu e terra [2] . O cérebro e o coração são templos habitados pelo Espírito. Cada célula do corpo humano tem uma consciência. Cada átomo é semelhante ao sistema solar.
Assim, o corpo físico é sagrado como um auxiliar da Alma Imortal. E é assim que ele deve ser visto, compreendido e utilizado: um instrumento a serviço de algo maior. Por este motivo, quando vemos alguém falar com desprezo do corpo fisico, devemos usar nosso discernimento. Os obstáculos à felicidade humana não vêm do corpo. Eles vêm da ignorância e desinformação da alma mortal, que usa erradamente este instrumento sagrado, indispensável para o aprendizado da sabedoria. Purificando nossa alma mortal, veremos com outros olhos o corpo físico.
Pergunta:
Mas parece haver alguns Iniciados que falam do corpo com um aparente desprezo.
Comentário:
A questão é complexa. É preciso transcender o corpo, discipliná-lo, imprimir nele, como em uma tela, a vontade espiritual; mas não é correto desprezá-lo. Não há dúvida de que, nas obras de Platão, de Plotino, de William Judge [3] e de outros grandes autores, vemos a tese (budista, por sinal) de que o corpo, como todo o mundo físico, é ilusório.
Isso, porém, deve ser contextualizado. O corpo é ilusório porque é passageiro, é impermanente e precário, se comparado à alma imortal. Mas ele é o nosso instrumento prático para perceber a “música das esferas”, o ritmo do cosmo, e também para alcançar a libertação espiritual.
Buddha estava no plano físico, e meditava em um corpo fisico, quando alcançou a libertação. O mesmo ocorre com cada processo de iniciação. Todos os caminhantes alcançam as suas grandes expansões de consciência durante a vida física. Mesmo que no momento exato da iniciação o corpo esteja adormecido e a alma fora dele, a iniciação só pode ocorrer durante a vida. Por todos estes motivos, o excesso de dualismo entre “corpo” e “espírito” é uma expressão da nossa ignorância espiritual. Ainda que imperfeito, o corpo é seguramente um instrumento do Espírito. A questão decisiva é saber com que grau de sabedoria nós o utilizamos em nossa vida diária.
NOTAS:
[1] Veja “Três Caminhos Para a Paz Interior”, Carlos Cardoso Aveline, Ed. Teosófica, Brasília, 2002, 191 pp., capítulo 14, “O Corpo Inseparável da Alma”, pp. 113-126.
[2] Gênesis, 28: 10-12.
[3] Em “O Oceano da Teosofia”.
Fonte:
http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=616
2 comentários:
Sabes que sou suspeita pra falar dos textos do Carlos.
São lindos, profundos e sempre nos acrescentam muito...
beijos,tudo de bom, lindo fds e adoro te ver nos blogs!
"o corpo físico é um espelho, e de nada adianta reclamar do espelho". Resume-se ai o reflexo daquilo que vivenciamos no semear e colher. O recipiente apenas contém a essencia e ela depende de quem a formula.
Gilberto
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