sábado, 28 de março de 2009

Nem Darwin, Nem Igrejas




Ciência Materialista e Dogma Religioso
São Os Dois Lados De Uma Moeda Falsa
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
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O texto a seguir foi produzido
originalmente para o e-grupo
SerAtento, de YahooGrupos.
 
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Amigos, 
 
 
Todos querem um planeta saudável e uma sociedade justa. 
 
Mais que um mero desejo ou esperança, este é um projeto histórico que vale a pena alimentar. Mas é sempre oportuno perguntar-nos o que estamos fazendo a respeito. 
 
Pensar que 'nada podemos fazer em relação a isso' seria, provavelmente, um pretexto e uma justificativa para não fazer aquilo que está, efetivamente, ao nosso alcance e pode ser feito.  
 
A vida física segue a vida do pensamento. A nossa relação com o mundo concreto e visível é sempre uma materialização do que ocorre antes nas mentes. Só uma espiritualidade planetária e e uma filosofia universal podem abrir caminho para uma sociedade planetária e uma cultura global baseada na fraternidade. E o caminho está sendo aberto.  
 
No início do século vinte, Robert Crosbie escreveu: 
 
'Se queremos uma civilização melhor que a que temos agora, somos nós que devemos começar agora mesmo a fazê-la. Mais ninguém a fará para nós. Temos que colocar em movimento as linhas que levam a uma verdadeira civilização, a partir de uma base verdadeira; mas se pensamos que não somos capazes de fazer muita coisa, e não fazemos o que está ao nosso alcance, é certo que nunca poderemos fazer mais.' [1]  
 
É um erro projetar sobre os outros o dever ético de tomar uma pequena iniciativa para que as coisas melhorem. Mas devemos examinar com calma a seguinte pergunta: 'O que deve ser feito?' Aparentemente, as possibilidades e as opções são muitas. Mas o mais importante é construir os alicerces. Um prédio firme necessita alicerces sólidos. Podemos somar-nos mais ativamente aos que estão construindo as bases e premissas de uma sociedade correta. Em que plano da realidade estão os fundamentos de uma civilização?  
 
As civilizações começam no pensamento. As bases do futuro não são físicas, mas mentais.  
 
O que é que necessita ser mudado exatamente? O que há de errado com a sociedade atual? 
 
A árvore se mede pelos frutos. A visão Igrejista de mundo – como podemos ver pela história dos últimos 15 séculos – contraria o ideal do Jesus do Novo Testamento e produz guerras, injustiça, intolerância e, paradoxalmente, um materialismo destituído de alma.  
Por outro lado, a visão darwinista da vida encerra um longo ciclo histórico com um materialismo consumista baseado na ideia da competição pura e simples. O darwinismo compete com o Igrejismo para dar a base filosófica da civilização atual, e busca legitimar-se com base na ideia 'cientifica' da competição. Mas para afirmar-se o darwinismo necessitou e ainda necessita ignorar uma verdade inconveniente. O fato incômodo é que a ajuda mútua constitui o grande fator da evolução em todos os reinos da natureza. A competição é um fator menor e complementar. Como demonstrou Piotr Kropotkin, a regra geral é o apoio mútuo e a complementariedade entre os indivíduos e entre as espécies. [2]
 
 
No plano social, uma civilização mais conscientemente solidária pode emergir de uma filosofia e de uma visão de mundo universais. A filosofia teosófica não supera apenas os dogmas irracionais impostos pelas Igrejas. Ela resgata parte do pensamento de Kropotkin a respeito da evolução humana, e faz isso a partir de uma proposta abrangente da vida no planeta e no cosmo. A teosofia supera a visão fragmentária do darwinismo, e ensina a lei da fraternidade entre todos os seres. Esta lei é uma consequência da lei do carma. A vida entre irmãos nem sempre é fácil, como se sabe. Mas isso não nega o fato da fraternidade, nem elimina o fato de que a solidariedade é a regra. A competição – quando deixa de ser um fator secundário e passa a ser visto como principal – leva à destruição mútua. E isso não é bom. 
 
Fraternalmente, Carlos. 
  
NOTAS: 
 
[1] 'A Book of Quotations From Robert Crosbie', Theosophy Co., Mumbai, India, 107 pp., ver pp. 61-62.  
 
[2] Leia-se por exemplo a obra 'El Apoyo Mutuo', de Piotr Kropotkin, Editorial Proyección, Buenos Aires, 1970, 328 pp. Edição em inglês, 'Mutual Aid, a Factor of Evolution', Peter Kropotkin, Dover Publications Inc., New York, 2006, 312 pp. O pensamento de Kropotkin, príncipe russo e anarquista não-violento, tem pontos em comum com a teosofia no que tange a evolução das espécies. 

 Fonte: www.filosofiaesoterica.com

imagem: Google
 

domingo, 22 de março de 2009

A Arte de Passear



A arte de passear  

Carlos Cardoso Aveline

"Navegar é preciso, viver não é preciso", diziam os antigos navegadores portugueses. E, de fato, pouco mais de quinhentos anos depois, não há dúvida de que navegar, ou viajar, é inevitável. A ciência moderna demonstrou que viajar é viver, porque tudo que existe flui em um eterno movimento.

O núcleo de cada átomo do universo é como um pequeno sol em torno do qual navegam elétrons em alta velocidade. Nossa galáxia é regida pela lei do movimento. A própria palavra "planeta", que vem do grego, significa "errante" ou "viajante". A terra já foi comparada a uma nave espacial, devido à sua viagem incessante em torno do sol. Além disso, nosso planeta gira em torno do seu próprio eixo, o que dá origem aos nossos dias e noites. Parece pouco? O sistema solar também está em peregrinação. Ele viaja à velocidade de 960 km por minuto ou 57.600 quilômetros por hora em direção à estrela Vega, a mais brilhante da constelação de Lira. Felizmente, Vega não está parada. Ela se desloca pelo cosmo numa direção e com uma velocidade que garantem pelo menos uma coisa: ela nunca será alcançada por nós.(1)

A mudança e o movimento - tanto internos como externos - são, portanto, o estado natural de tudo o que existe. Qualquer imobilidade ou estabilidade são subjetivas e passageiras. Permanentes são a transformação e a harmonização dinâmica das coisas em todo o cosmo. A cada desarmonia, segue-se uma harmonia maior e mais completa.

Se tudo está em movimento e nada existe fora da dança do universo, não há motivo para que nós queiramos viver fechados entre quatro paredes, como se fosse possível existir sem transformar-se. É só quando perdemos o contato com o ritmo natural da vida que o escritório, a fábrica, o apartamento ou a casa passam a funcionar como modernas prisões, ricas em recursos tecnológicos.

Segundo o filósofo Karl Gottlob Schelle, viver continuamente em atmosferas confinadas amolece o espírito das pessoas e enfraquece o seu bom senso. "O movimento do corpo não é diretamente uma das condições da vida", escreve Schelle, "e sua ausência não desencadeia irremediavelmente a morte... mas ele é, no entanto, uma condição indireta. Ele é indispensável para a saúde do corpo e para o bom funcionamento do organismo."(2)

A solução passa pela simplicidade voluntária. Basta caminhar regularmente ao ar livre e conviver com o ambiente natural para recuperar e manter a vitalidade. A antiga arte de passear pela natureza rompe os muros invisíveis da rotina e amplia nossos horizontes pessoais. É verdade que essa arte meditativa nem sempre precisa ser praticada a pé. A bicicleta e o cavalo são alternativas admissíveis, até certo ponto, porque permitem andar em silêncio, em baixa velocidade, em contato com o vento, percebendo a magia e preservando a paz da natureza.

A arte de viver com sabedoria inclui a necessidade de manter o corpo físico saudável e acostumado ao movimento. Isso nos estimula a tomar duas providências. A primeira é incorporar um pouco de trabalho físico à nossa rotina diária. A segunda é adotar o hábito de meditar caminhando. Passear e contemplar a unidade da vida são duas atividades que podem ser feitas ao mesmo tempo. Quando caminhamos pela natureza com o espírito livre de preocupações, nosso sistema nervoso relaxa, o sangue circula com mais força e vitalidade, o cérebro e o coração têm sua vida renovada. Em todo o organismo, a vitalidade flui melhor. Enquanto isso, podemos contemplar o processo da vida ao nosso redor e perceber mais claramente a nossa identidade profunda com os outros seres.

Outra questão é saber o que o caminhante carrega consigo durante o passeio. Afinal, cada espírito humano possui uma espécie de bagageiro. Ali vão inúmeras lembranças, idéias, crenças, projetos, e alguns princípios éticos. Nem sempre carregamos bagagens agradáveis em nosso espírito. Há também feridas e cicatrizes da alma guardadas ali. Uma coisa é certa, porém. O bom passeador não aceita angústias e ansiedades como parte da sua bagagem. Enquanto pedala ou caminha, ele esquece as atividades de curto prazo e expande sua consciência. As preocupações vão desaparecendo junto com as outras formas de apego emocional. Esse processo de relaxamento é ajudado pelas reações bioquímicas que o exercício físico moderado causa naturalmente no corpo humano. O espírito do caminhante se eleva até que um dia ele passa a perceber em todas as coisas o princípio universal do equilíbrio e da harmonia.

É com esse estado de espírito vasto e sereno que devemos caminhar. Aquele que possui uma mente aberta e um coração puro sabe escutar melhor o som do vento nas folhas das árvores. O aprendiz da sabedoria ouve o cântico dos pássaros e aprecia o nascer do sol sem pressa ou apego. Com a mesma tranqüilidade que tem ao observar o vôo de um pássaro no céu, ele vê as ondas de pensamentos e sentimentos no espaço interior da sua própria consciência.

Na verdade, não há uma separação entre o mundo interno e o mundo externo. De um lado, as nossas emoções são influenciadas pelo que está fora de nós. E de outro, sempre julgamos o mundo externo a partir daquilo que carregamos em nossa própria mente e nosso coração.

Há milhares de anos, diferentes tradições religiosas usam longas peregrinações por terras desconhecidas como meio e método para a libertação dos apegos interiores. É preciso abrir mão tanto dos objetos externos como dos conteúdos internos, para conhecer a liberdade espiritual. O budismo, o hinduísmo e o cristianismo têm disciplinas espirituais que incluem o abandono da vida "normal" - feita de hábitos e compromissos - para viajar pelo mundo durante um período indefinido de tempo.

As caminhadas curtas também são parte daquilo que, não por acaso, passou a ser chamado de "caminho interior". O ato de caminhar era um item básico da vida cotidiana e da disciplina espiritual nas escolas de filosofia do mundo antigo.

Para o cidadão moderno, os passeios a pé, de trinta ou quarenta minutos diários, são exercícios eficientes de meditação e higiene mental. Alguns alegam que não têm tempo para isso. O argumento é compreensível. O hábito de caminhar exige que se abra mão da rigidez e da imobilidade. É necessário renunciar à rotina da pressa emocional para olhar o mundo de outros pontos de vista, enquanto mantemos o corpo em movimento e observamos o fluxo de nossos sentimentos e pensamentos. São João da Cruz escreveu: "A alma que está apegada a alguma coisa, por mais bem que haja nela, não pode chegar à liberdade da união divina. Porque não tem importância se é uma corda grossa e forte ou um fino e delicado fio que prende o pássaro; até que o grilhão se rompa, o pássaro não pode voar."

A prática do desapego está de tal forma associada à arte de passear que, para o escritor chinês Lin Yutang, "o verdadeiro viajante é sempre um vagabundo, com as alegrias, as tentações e o sentido de aventura que tem o vagabundo. Viajar é andar à toa, ou não é viajar". Segundo Yutang, "a essência da viagem é não ter deveres nem horas marcadas". É recomendável esquecer os assuntos pessoais. Lin Yutang acrescenta:

"O bom viajante é o que não sabe aonde vai, e o viajante perfeito é o que não sabe de onde vem. Nem sabe seu nome e sobrenome. (...) É provável que esse viajante não tenha um único amigo em terra estranha, mas, como disse uma monja chinesa, ‘não estimar a ninguém em particular é estimar a humanidade em geral'. Não ter um amigo particular é ter a todos por amigos. Esse viajante, que ama a humanidade em geral, mistura-se com ela e vagueia, observando o encanto das gentes e de seus costumes."(3)

Defensor da espontaneidade, autor de obras marcadas pelo espírito taoísta, Yutang afirma que o equipamento mais necessário para quem passeia "é um talento especial no peito e uma visão especial debaixo das sobrancelhas". Ele prossegue:

"O que interessa é saber se o viajante tem coração para sentir e olhos para ver. Se não os tem, suas excursões à montanha são pura perda de tempo e de dinheiro; em compensação, se os tem, poderá conseguir a maior alegria das viagens sem ir sequer às montanhas, mas permanecendo em sua casa e olhando os arredores, e percorrendo os campos para contemplar uma nuvem fugitiva, ou um cachorro, ou uma cerca, ou uma árvore solitária."(4)

Em meio à natureza, o caminhante renova a sua vitalidade física enquanto medita. Se meditar é expandir a consciência em direção ao que é imenso, sagrado e muito maior que ela própria, então é possível haver meditações inconscientes e involuntárias. E é isso que ocorre quando caminhamos. O convívio com plantas e animais nos ensina que a inteligência universal está por toda parte. Há uma inteligência nas orquídeas. Os pássaros têm sua linguagem. O vento sugere coisas. As árvores são seres evoluídos. Para o escritor Maurice Maeterlinck, cada planta que encontramos pelo caminho é um ser dotado de inteligência:

"Não é somente na semente ou na flor, mas em toda a planta, caule, folhas e raízes, que se descobre, se quisermos inclinar-nos por um instante sobre seu humilde trabalho, numerosos sinais de uma inteligência perspicaz. Lembre-se dos magníficos esforços em direção à luz feitos por galhos contrariados, ou a luta criativa e valente das árvores em perigo."

E Maeterlinck narra o drama de uma grande árvore situada à beira de um precipício, cuja pedra de apoio caíra, mas que se sustentava miraculosamente lançando novas raízes ao solo para evitar o pior. Espetáculos como esse são relativamente comuns nas margens dos rios atacados de erosão.(5)

Depois de discutir a questão da inteligência dos vegetais e dos insetos, Maeterlinck aborda em poucas palavras um tema central da filosofia esotérica:

"Mas que pouca importância tem, no fundo, a questão da inteligência pessoal das flores, dos insetos ou dos pássaros! Que se diga, a propósito da orquídea como da abelha, que é a Natureza e não a planta ou a mosca que calcula, combina, adorna, inventa e raciocina. Que interesse pode ter para nós essa distinção?"

Na verdade - acrescenta Maeterlinck - também os conhecimentos humanos fazem parte da natureza. Nossas pequenas inteligências pessoais são parcelas de um conjunto maior: "Todos os nossos motivos arquitetônicos e musicais, todas nossas harmonias de cor e de luz, etc., são tomadas diretamente da Natureza".(6)

Sabendo disso, o bom passeador caminha ou pedala em harmonia com o cosmo, tanto na avenida de uma grande cidade como na beira do mar ou na trilha de um bosque. Ele percebe a unidade da vida e se reconhece como um pequeno ser participante da grande inteligência universal. Por esse motivo, o caminhante sente que nada tem a temer do passado, do presente ou do futuro. Ele vê que, no fundo, a paz comanda a vida - não só aqui e agora, mas também em todas as partes, e sempre.

NOTAS.

(1) "O Livro de Ouro do Universo", de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Ediouro, 2001, 509 pp., ver p.136.

(2) "A Arte de Passear", de Karl Gottlob Schelle, Ed. Martins Fontes, SP, 2001, pp. 16-17.

(3) "A Importância de Viver", de Lin Yutang, Ed. Globo, Porto Alegre, quarta edição, 1959, tradução de Mário Quintana, 360 pp., ver p. 267.

(4) "A Importância de Viver", obra citada, p. 269.

(5) "La Inteligencia de las Flores", de Maurice Maeterlinck, Ediciones Nuevo Siglo, Buenos Aires, 1997, 126 pp., ver pp. 13-14.

(6) "La Inteligencia de las Flores", obra citada, ver pp. 59-60.

Carlos Cardoso Aveline é jornalista, escritor e articulista da revista Planeta.

Fonte:  www. centroraja.org.br/Raja/

Outro site de interesse: www. filosofiaesoterica.com


imagem: google

sexta-feira, 20 de março de 2009

Por que os animais sofrem?


POR QUE OS ANIMAIS SOFREM?

Um Fracasso Ético da “Civilização Ocidental e Cristã” 

Helena P. Blavatsky


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Neste texto vigoroso de 1883, H.P.B. mostra 
o saldo ético negativo da chamada “civilização 
cristã” em relação aos animais, e especialmente em 
relação aos animais mais evoluídos, os “irmãos 
menores” da humanidade. Com algumas boas 
e nobres exceções, entre as quais a principal é a 
de São Francisco de Assis e do franciscanismo, 
o cristianismo ainda hoje desculpa e “autoriza” o 
covarde massacre cotidiano de animais indefesos.

Nesta primeira parte do século 21, nossa civilização
começa a despertar. Os movimentos de defesa dos 
animais são cada vez mais fortes. O vegetarianismo 
se alastra, e a consciência ecológica permeia vastos 
setores do próprio cristianismo.  

O texto de HPB, porém, permanece plenamente atual.

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P. É possível para mim, que amo os animais, obter mais poder do que tenho para ajudá-los em seu sofrimento? 

R. Um autêntico AMOR não egoísta, combinado à VONTADE, é um “poder” em si mesmo. Aqueles que amam os animais devem mostrar sua afeição de maneira mais eficiente do que cobrir seus animais com fitas e levá-los para uivar e arranhar nas competições, em busca de prêmios.  

P. Por que os animais mais nobres sofrem tanto nas mãos dos homens? Não preciso entrar em detalhes ou tentar explicar esta questão. As cidades são lugares de tortura de animais que podem, por qualquer motivo, ser usados e abusados pelo homem! E esses são sempre os mais nobres. 


R. Nos Sutras ou Aforismos de Karma-pa, uma seita que é um ramo da grande seita Gelukpa (capuz amarelo) no Tibete, e cujo nome indica sua doutrina – “os que acreditam na eficácia do Carma” (ação, ou boas obras) – um Upasaka [1] pergunta a seu Mestre: “Por que o destino dos pobres animais mudou tanto ultimamente? Nunca um animal era morto ou tratado injustamente nas imediações de um templo budista ou outros templos na China, antigamente, enquanto hoje em dia eles são mortos e livremente vendidos nos mercados de várias cidades, etc.” A resposta é sugestiva: . . . 

“Não ponha a culpa na natureza por esta injustiça sem igual. Não procure inutilmente por efeitos cármicos para explicar a crueldade, porque o Tenbrel Chugnyi (conexão causal, Nidâna) não lhe mostrará nenhum. É a indesejada vinda do Peling (cristão estrangeiro), cujos três deuses ferozes recusaram-se a dar proteção para os fracos e pequenos (os animais), que é responsável pelos sofrimentos incessantes, e de fazer doer o coração, de nossos companheiros mudos.”

A resposta à pergunta acima está aqui em poucas palavras. Pode ser útil, ainda que mais uma vez desagradável, dizer a alguns religiosos que a culpa por este sofrimento universal é inteiramente da nossa religião e educação ocidentais. Cada sistema filosófico oriental, cada religião e seita da antiguidade – bramânica, egípcia, chinesa e, finalmente, o mais puro e nobre de todos os sistemas de ética existentes, o budismo, ensinam bondade e proteção a cada criatura viva, desde o animal e o pássaro até os seres rastejantes e mesmo o réptil. Só a nossa religião ocidental permanece em seu isolamento, como um monumento ao mais gigantesco egoísmo humano jamais desenvolvido por uma mente humana, sem uma palavra em favor ou proteção do pobre animal. Muito pelo contrário. Porque a teologia, enfatizando uma frase do capítulo jeovístico da “Criação”, interpreta-a como prova de que os animais, como todo o resto, foram criados para o homem! Portanto, a caça se tornou um dos entretenimentos mais nobres das classes superiores. Assim – pobres inocentes pássaros feridos, torturados e mortos aos milhões a cada outono, tudo em países cristãos, para a recreação do homem. Disso também surgiu a maldade, e freqüentemente a crueldade a sangue frio, durante a juventude do cavalo e do novilho, indiferença brutal com seu destino quando a idade os torna incapazes para o trabalho, e ingratidão após anos de trabalho duro para o homem e a seu serviço. Em todos os países que o europeu passa a dominar, começa a matança de animais e o seu massacre inútil. 

 “Alguma vez o prisioneiro matou animais por prazer?” perguntou um juiz budista numa cidadezinha fronteiriça na China, infestada de piedosos homens de igreja e missionários europeus, a respeito de um homem acusado de ter matado sua irmã. E, diante de uma resposta afirmativa, já que o prisioneiro tinha estado a serviço de um coronel russo, “um poderoso caçador diante do Senhor”, o juiz não precisou de nenhuma outra evidência e o assassino foi considerado “culpado” – com razão, como sua confissão posterior comprovou.


Deve o cristianismo, ou mesmo o leigo cristão, ser culpado? Nenhum dos dois. É o sistema pernicioso da teologia, são os longos séculos de teocracia e o feroz e sempre crescente egoísmo dos países ocidentais civilizados. O que podemos fazer?

NOTA:

[1] Upasaka: discípulo. (NT)

 

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O texto acima, que mostra o pioneirismo do pensamento de HPB, foi publicado pela primeira vez em maio de 1888. Título original: “Why Do Animals Suffer?”  

Ver “Theosophical Articles”, H.P. Blavatsky, Theosophy Company, Los Angeles, Volume II, 532 pp., 1981, pp. 327-328.


Publicação em:  http://filosofiaesoterica.com/ler.php?id=452


quinta-feira, 19 de março de 2009

A negação


   A negação é uma tentativa de afastar o sofrimento. É um mecanismo de defesa psicológica, geralmente inconsciente, que usamos para nos proteger de sentimentos dolorosos. Se você diz a si mesmo que não sente tristeza em relação a alguma coisa, pode ser capaz de se convencer e de convencer os outros de que seu sofrimento acabou.

   Ninguém gosta de sofrer.  A negação pode ser uma forma de fingir que não estamos sofrendo. Vez por outra a negação é um mecanismo de defesa necessário. É insuportável sentir dor o tempo todo, portanto, às vezes negamos para fugir da dor. Mas se não estivermos conscientes que estamos usando a negação, ela pode ser perigosa.  É possível que cause ainda mais sofrimento do que aquele que estamos tentando negar.

   Fonte: Como Deus Cura a Dor   - Mark W. Baker

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O sofrimento é necessario?

Em muitas religiões, o sofrimento é elevado a um status de "caminho da redenção". A Igreja Católica Apostólica Romana é um exemplo de instituição religiosa que dá muita ênfase ao sofrimento. Em alguns casos, essa ênfase é tão exagerada que os fiéis acabam por sacrificar-se durante suas vidas, em busca do Reino Celestial após a morte. As experiências espirituais só teriam valor quando há sofrimento, e os templos religiosos estão repletos de imagens que retratam o sofrimento dos mártires.

Qual a sua opinião a respeito do sofrimento?


Da minha parte, acredito que o sofrimento não é necessário nem desnecessário. Ele é inerente à existência. O estado Crístico ou Búdico ocorre quando se "aceita os desígnios do Pai" ou quando se "atinge o Nirvana". O que isso significa? Aceitar que o sofrimento existe, da mesma maneira que o prazer. Ambos são transitórios. Um não existe sem o outro.

O caminho de cada ser humano é viver da maneira mais fluida possível. Isso significa, por um lado, sofrer menos, por saber que o sofrimento é passageiro. Mas também significa se apegar menos ao prazer, pois este também passará.

Isso não significa se resignar ao seu destino e não fazer nada para mudar sua vida sofrida. Tampouco significa glorificar o sofrimento como meio de alcançar o "Reino do Pai". Infelizmente, ao meu ver, tanto alguns Cristãos quanto alguns Budistas deixaram de seguir seus próprios caminhos para viver a "imitação de Cristo" ou a imitação de Buda. Seja martirizando-se, seja tornando-se um asceta, seja como for, estes seguidores acabam por apegar-se à história de vida de seus Avatares, ao invés de encararem o ensinamento central de ambos: Siga o Seu próprio caminho! (Não o MEU!)

Dizem os Budistas que do momento em Sidarta Gautama atingiu a Iluminação em diante, ele não se moveu. Foi o mundo que se moveu à sua volta. Os sofrimentos e prazeres deste mundo iam e vinham pelo ser em estado Búdico, mas ele permanecia centrado em seu Eu mais elevado.

Na Bíblia, em uma passagem do evangelho de São João, os Fariseus acusam Jesus de estar pecando ao realizar milagres no Sábado, o dia reservado ao Senhor [não é permitido realizar qualquer trabalho neste dia da semana, em respeito ao Mais Altíssimo, segundo a Lei Judáica]. Jesus afirma categoriamente: "Vós sois Deuses".

Este é o meu entendimento. Somos Todos Divindades a se manifestarem. Cada um no seu próprio caminho, sem imitações nem martírio.

Um abração e Vibrações Positivas!

Irradiando Luz by Gabriel Siqueira is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial 2.5 Brasil License. 
Based on a work at irradiandoluz.blogspot.com.


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