sábado, 23 de julho de 2011

O Significado da Paz


Um rei que ofereceu um prêmio ao artista que pintasse o melhor quadro que representasse a paz. Muitos artistas tentaram. O rei olhou todos os quadros, mas apenas gostou mesmo de dois, e teve de escolher entre ambos. Um quadro retratava um lago sereno. O lago era um espelho perfeito das altas e pacíficas montanhas a sua volta, encimado por um céu azul com nuvens brancas como algodão. Todos os que viram este quadro acharam que ele era um perfeito retrato da paz. O outro quadro também tinha montanhas. Mas eram escarpadas e calvas. Acima havia um céu ameaçador do qual caía chuva, e no qual brincavam relâmpagos. Da encosta da montanha caía uma cachoeira espumante. Não parecia nada pacífica. Mas quando o rei olhou, ele viu ao lado da cachoeira um pequeno arbusto crescendo numa fenda da rocha. No arbusto uma mãe pássaro havia feito seu ninho. Lá, no meio da turbulência da água feroz, se instalara a mãe pássaro em seu ninho em perfeita paz. Qual pintura você acha que ganhou o prêmio? O rei escolheu a segunda Sabe por quê? "Porque," explicou o rei, "paz não significa estar num lugar onde não há barulho, problemas ou trabalho duro.”Paz significa estar no meio disso tudo e ainda estar calmo no seu coração. Este é o significado real da paz

domingo, 17 de julho de 2011

Toda Natureza é Consciente!


Toda Natureza é Consciente

A psicologia “moderna” mantém uma triste ilusão antropocêntrica: a ilusão segundo a qual o ser humano é o dono exclusivo da consciência.

Assim como outras áreas de conhecimento científico, a psicologia convencional parte da premissa de que o universo é inconsciente. Ela pensa que o mundo vegetal também é inconsciente. Ela vai além e considera que o mundo animal é inconsciente, e que o próprio ser humano é, amplamente, governado por algo que ela insiste em chamar de “inconsciente”.

O que vemos nesta situação é uma forma estreita de consciência imaginando que só ela própria é consciência, e que tudo o mais no universo é destituído de inteligência.

A arrogância − neste caso − é diretamente proporcional à ignorância. Em pleno século 19, H.P. Blavatsky escreveu:

“A ordem inteira da natureza evidencia uma marcha progressiva em direção a uma vida mais elevada. Há um planejamento na ação das forças aparentemente mais cegas. Todo o processo de evolução, com suas adaptações intermináveis, é uma prova disso. As leis imutáveis que eliminam as espécies fracas e frágeis, abrindo espaço para as fortes, e que asseguram ‘a sobrevivência do mais adaptado’, embora sejam cruéis na sua ação imediata − trabalham todas em função daquela grande meta. O próprio fato de que ocorrem adaptações, e que os mais adaptados realmente sobrevivem na luta pela existência, mostra que o que é chamado de ‘Natureza inconsciente’ constitui na verdade um agregado de forças manipuladas por seres semi-inteligentes (Elementais) guiados pelos Espíritos Planetários Superiores (Dhyan Chohans), cujo agregado coletivo forma o verbum manifestado do LOGOS imanifestado, e constitui ao mesmo tempo a MENTE do Universo e a sua LEI imutável.” [1]

E H.P. Blavatsky acrescenta, na edição original do texto, a seguinte nota de rodapé:

“Tomada em um sentido abstrato, a Natureza não pode ser ‘inconsciente’, porque ela é a emanação da consciência ABSOLUTA e portanto é um aspecto desta (no plano manifestado). Onde está o homem suficientemente audaz para pretender negar que a vegetação e mesmo os minerais têm uma consciência própria e peculiar? Tudo o que ele pode dizer é que esta consciência está além da sua compreensão.”

Esta é mais uma evidência no sentido de que, segundo a teosofia, não há matéria morta no universo, e a consciência universal permeia tudo o que existe. Em seu livro “A Lei do Triunfo”, Napoleon Hill escreveu sobre a inteligência presente em cada célula orgânica, e ligou este fato a certos hábitos de alimentação:

“As células de toda vegetação, bem como as da vida animal, são dotadas de um elevado grau de inteligência. (...) Pelo fato de que muitas formas animais (inclusive o homem) vivem de devorar os animais menores e mais fracos, a ‘inteligência celular’ desses animais que entram no homem e se tornam parte dele traz consigo o medo nascido da experiência de ter sido comida viva.” [2]

De fato, a literatura teosófica ensina que comer carne − isto é, comer cadáveres de animais − é algo que embrutece o ser humano, e este embrutecimento começa pelo nível da inteligência celular. Napoleon Hill aborda a interação entre as emoções e os órgãos digestivos do ser humano:

“Sabe-se que os aborrecimentos, as emoções ou os temores interferem com o processo digestivo e, em casos extremos, detêm inteiramente este processo (.....). É claro, pois, que o espírito cumpre um papel na química da digestão e da distribuição dos alimentos” [3]

Napoleon Hill discute a relação entre o estado de espírito do indivíduo e a inteligência celular do seu corpo físico:

“A preguiça não é mais do que o resultado da ação de uma mente pouco ativa sobre as células do corpo. (.....) As células agem de acordo com o estado mental, exatamente da mesma maneira como os habitantes de uma cidade agem de acordo com a psicologia da massa que a domina. Se um grupo de cidadãos eminentes procura fazer com que a cidade adquira a reputação de ‘progressista’, esta ação influencia a todos os que vivem ali. Uma mente ativa e dinâmica conserva as células do corpo em constante estado de atividade.” [4]

E ainda:

“Os pensamentos dominantes na nossa mente − ou seja, os pensamentos mais profundos e freqüentes que nos vêm − influenciam a ação do nosso corpo. Cada pensamento posto em ação pelo cérebro atinge e influencia todas as células do corpo.” [5]

Não existem, portanto, coisas ou seres inconscientes. Existem apenas seres e objetos cuja consciência nós ainda somos incapazes de perceber. Em algum momento, a psicologia convencional terá que adequar-se à verdade dos fatos e ir além da pretensão darwinista do século 19, segundo a qual a única forma existente de consciência é a consciência verbal do hemisfério cerebral esquerdo do ser humano, aquela consciência que rotula e classifica, e que julga o futuro com base no passado.

Na verdade, toda natureza é consciente, embora nem todos os seres tenham a consciência individualizada, ou percepção auto-consciente. Além disso, é importante saber que a percepção auto-consciente – de acordo com o budismo e a filosofia esotérica – é também uma forma de ilusão, de maya. Para que se alcance a sabedoria, ela deve ser transcendida, ao mesmo tempo que é preservada como instrumento.

O hemisfério cerebral esquerdo é útil, mas as inteligências das outras áreas cerebrais também devem ser usadas. (Um Estudante de Teosofia)

NOTAS:

[1] “The Secret Doctrine”, Helena P. Blavatsky, “Theosophy Company”, Los Angeles, volume I, pp. 277-278. Na edição da Ed. Pensamento, SP. Ver “A Doutrina Secreta”, vol. I, pp. 308-309.

[2] “A Lei do Triunfo”, de Napoleon Hill, José Olympio Editora, RJ, 18ª Edição, 1997, 736 pp., ver p. 132.

[3] “A Lei do Triunfo”, obra citada, p. 58.

[4] “A Lei do Triunfo”, obra citada, p. 609.

[5] “A Lei do Triunfo”, obra citada, p. 614.

Fonte: Boletim O TEOSOFISTA, Agosto 2009.

http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=704

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Trabalho Inútil...



Quando os ensinamentos não chegam ao nosso coração...
Boa Reflexão...



“Um velho monge e um jovem monge estavam andando por uma estrada quando chegaram a um rio que corria veloz. O rio não era nem muito largo nem muito fundo, e os dois estavam prestes a atravessá-lo quando uma bela jovem, que esperava na margem, aproximou-se deles. A moça estava vestida com muita elegância, abanava o leque e piscava muito, sorrindo com seus olhos muito grandes.


– Oh – ela disse -, a correnteza é tão forte, a água é tão fria, e a seda do meu quimono vai se estragar se eu o molhar. Será que vocês podem me carregar até o outro lado do rio?

E ela se insinuou sedutora para o lado do monge mais jovem.

O jovem monge não gostou do comportamento daquela moça mimada e despudorada. Achou que ela merecia uma lição. Além do mais, monges não deveriam se envolver com mulheres. Então, ele a ignorou e atravessou o rio. Mas o monge mais velho deu de ombros, ergueu a moça e a carregou nas costas até o outro lado do rio. Depois os dois monges continuaram caminhando pela estrada.

Embora andassem em silêncio, o monge mais novo estava furioso. Achava que o companheiro tinha cometido um erro ao ceder aos caprichos daquela moça mimada. E, pior ainda, ao tocá-la tinha desobedecido às regras dos monges. O jovem reclamava e vociferava mentalmente, enquanto eles caminhavam subindo montanhas e atravessando campos. Finalmente, ele não agüentou. Aos gritos, começou a repreender o companheiro por ter atravessado o rio carregando a moça. Estava fora de si, com o rosto vermelho de tanta raiva.

– Ora, ora – disse o velho monge. – Você ainda está carregando aquela mulher? Eu já a pus no chão há uma hora.

E, dando de ombros, continuou a caminhar.”


Fonte: Contos Budistas, Editora Martins Fontes, uma coletânea de contos extraídos de várias culturas asiáticas, recontados por Sherab Chödzin e Alexandra Kohn, ilustrações de Marie Cameron.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Assédio da Luz, assédio das Sombras...

Assédio da Luz, assédio das Sombras...

No momento atual da humanidade, já sabemos, já lemos e já experienciamos que todos somos assediados espiritualmente. Esse assédio pode ser por parte da Luz ou das Sombras.

A nossa sintonia pessoal, a qual é construída com base nas nossas emoções, pensamentos, sentimentos e atitudes, determinam o que vamos atrair: assedio da luz ou das sombras. Mesmo assim, ainda podemos estar sintonizados em vibrações nobres e sermos assediados pelas sombras, como também podemos estar sintonizados em condições precárias a ainda assim, sermos assediados pelos seres de Luz.

Quando o assédio é feito por seres destituídos de amor e respeito, sem fins de moral elevada, os consideramos obsessores.

Quando o assédio é feito por seres com objetivos elevados, sintonizados com o bem maior, os consideramos como amparadores, guias, mentores ou amigos espirituais.

Pela natureza da vida sabemos, a interação entre plano espiritual e plano físico é tão íntima como a relação do ovo e da sua casca, pois estão intimamente ligados. Um existe para que o outro exista, portanto estão interagindo o tempo todo.

O plano físico e o plano espiritual coexistem no espaço de nossa existência, ou seja, não temos como bloquear essa interação, mas temos como trabalhar no sentido de fazer com que essa “troca” seja a mais saudável possível.

Não há como evitar, o assédio espiritual é constante, atuante, exatamente como o ar que respiramos. A nossa escolha é se respiraremos um ar puro ou poluído, que na prática quer dizer, se nossa sintonia será estabelecida com os assediadores do bem ou do mal.

Agora, nesse exato momento que você lê esse texto, você está naturalmente em sintonia com o plano espiritual, então faça uma oração de coração aberto, receptivo, com intenção pautada no amor, para que os seres de luz venham até você e lhe inspirem os melhores valores e sentimentos. Só isso basta por hora!

Então silencie a mente e sinta a melhoria no seu padrão vibracional, pois sua energia pessoal melhorará em instantes. Se você gosta de testar tudo na prática, então avalie agora e veja os resultados.

O mais importante é que saibamos definitivamente, que quando agirmos com descaso, sem consciência, sem atenção a princípios e valores de elevada moral, pautados no amor, no equilíbrio, no respeito e na regra de ouro* presente em todas as religiões, como consequência natural, seremos assediados pelo lado sombra da existência espiritual.

Quanto mais assédio do mal, mais medo, mais egoísmo, mais distração consciencial, mais doença, mais ignorância.

Quanto mais assédio do bem, mas coragem, mais altruísmo, mais prosperidade, mas consciência espiritual e mais alegria de viver.

Não precisamos enxergar, ouvir ou ver o assédio da luz para que ela aja em nossas vidas, assim como não precisamos ver a energia elétrica para que ela atue, bem como não precisamos ver o ar para respirá-lo. Entretanto, de forma simples e objetiva, precisamos focar nossos pensamentos e atitudes no sentido do bem maior, para desfrutarmos de assédios espirituais de seres de elevado quilate moral, e dessa forma recebermos as bênçãos que é viver nessa sintonia. É simples, é fácil e é transformador viver com essa atenção e essa consciência.

*Regra de ouro: não faça para o seu próximo o que não gostaria que lhe fizesse e ame seu próximo como a ti mesmo.

por: Bruno J. Gimenes - orientado espiritualmente por Cristopher

http//:brunojgimenes.luzdaserra.com.br

sábado, 2 de julho de 2011




Carma, Destino e Ética

Um Diálogo Sobre a Lei da Vida

Carlos Cardoso Aveline

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Uma versão do texto a seguir foi publicada de modo
anônimo na edição de junho de 2009 de “O Teosofista”, o
boletim eletrônico do website www.FilosofiaEsoterica.com .



Estudante A:

Qual é a relação entre a lei do carma e a lei da solidariedade?

Estudante B:

A relação nem sempre é fácil de ver. Mas é profunda e fundamental. Há uma ilusão perigosa na ideia de que “se uma pessoa sofre, é porque ela merece”. Esta crença leva à omissão de solidariedade e, em última instância, à hipocrisia. A pessoa pode não merecer o sofrimento, e isso ocorre em grande parte dos casos. Ainda quando ela o merece, é uma ingenuidade alguém que observa o sofrimento pensar simplesmente que “o carma não é meu, portanto não tenho nada com isso”. Um erro não justifica o outro, e a lei do carma não favorece o egoísmo. De que maneira se deve ajudar o próximo, porém? Esta é uma questão complexa. O mero sentimento de simpatia sincera pode ajudar muito. O melhor modo de ser altruísta não é ajudar materialmente este ou aquele indivíduo, e sim trabalhar pelo progresso espiritual da humanidade toda.
Deixemos isso de lado, por enquanto, e examinemos mais de perto a ideia de que a injustiça e o sofrimento são, frequentemente, imerecidos. Quero mencionar cinco exemplos práticos a respeito.
1) Na valiosa lenda dos Evangelhos, Jesus, evidentemente, não merecia ser morto.
2) Nos últimos dois mil anos, a perseguição dos judeus não foi merecida, e nada justifica o massacre promovido no século 20 pelo nazi-fascismo.
3) O genocídio dos indígenas das três Américas nos últimos 500 anos - embora abençoado pelo clero cristão - foi um crime contra a humanidade, evidentemente imerecido e injustificável.
4) As crianças que morrem atualmente por falta de recursos e de médicos nos hospitais públicos brasileiros não merecem a morte.
5) As vítimas inocentes das guerras e do terrorismo nos últimos anos nada fizeram que justifique a violência contra elas.
A responsabilidade cármica por atos de injustiça não é das vítimas, mas de quem comete as injustiças.
A valente defesa dos que são injustamente atacados constitui um preceito central em filosofia e em teosofia.
Por algum motivo, a pseudo-teosofia e um certo semi-esoterismo frequentemente esquecem deste fato. Esta grave distorção da lei do carma deve ser apontada e esclarecida.

Estudante A:

Você está dizendo que os acontecimentos lamentáveis do tempo presente não são uma conseqüência mecânica do passado. Eles têm uma componente de carma novo, e a repetição cega do passado pode, e deve, ser interrompida. Nada nos impede de criar a cada instante um presente e um futuro melhores.

Estudante B:
Exatamente: existe uma coisa chamada carma novo.
Todo novo carma depende de quem age e não de quem sofre a ação. Mas quem recebe a ação também age, ao decidir como receberá a ação do outro. Para nós, é mais importante ver o presente como semente de futuro do que fruto do passado. Interessa saber que decisões tomamos a cada momento.
Os Aforismos de Ioga de Patañjali ensinam que o mal que ainda não ocorreu pode ser evitado.
A legislação brasileira estabelece que todo cidadão tem o dever e o direito de interromper e impedir qualquer crime que esteja ocorrendo perto de si. A legislação brasileira não diz em momento algum que a responsabilidade cármica pelos atos de violência é das vítimas. Crimes não devem ser fantasiosamente imaginados como “atos de justiça cármica”.
As “Cartas dos Mahatmas” mostram que tanto a natureza como as pessoas cometem erros e injustiças, inclusive erros graves, que serão dinamicamente corrigidos pela lei do carma.
É verdade que, nos níveis inferiores de consciência, o carma é pesado e funciona de um lado como uma colheita mecânica do que se plantou, e de outro lado como um plantio cego que causará ainda mais sofrimento no futuro. Mas nos níveis superiores, os erros são corrigidos, ao invés de “castigados”; e o carma novo é criado conscientemente na direção correta. É para isso que aponta a teosofia.
O objetivo da lei do carma não é de modo algum punir, mas ensinar a lei da harmonia. Não há ética alguma que justifique cruzar os braços e lavar as mãos diante das injustiças cometidas.

Estudante A:

Como funciona o conceito de fraternidade, na prática?

Estudante B:

A fraternidade universal é dinâmica. O carma é a lei que preside a interação entre todos os seres. Ele regula os mais diferentes níveis de realidade do universo e do planeta. Os mestres de sabedoria não estão acima da lei do carma. Eles são mestres precisamente porque se identificaram com a lei do carma no que ela tem de mais elevado. Estão a serviço da Lei. Por esse motivo, não fazem favores pessoais a ninguém. Este é outro fato que a pseudo-teosofia esquece.
O carma é a lei da ética e da harmonização constante. E podemos deduzir que, se existe necessidade de uma constante harmonização, é porque, em Kali Yuga - a era de longo prazo em que estamos - nem todas as ações ou situações são justas, corretas e harmoniosas. Quem pensa que “o sofrimento é sempre merecido” talvez queira dizer a alguém que tenha perdido uma pessoa amada:
“Parabéns, amigo. Seu filho de cinco anos de idade morreu ontem, por falta de socorro em um hospital público. Isso é muito merecido. O carma não falha. Parabéns por corrigir desta forma seus graves erros do passado. Sorria e fique feliz.”
Quem pensa isso não conhece o funcionamento da lei do carma. Existem milhares de maneiras possíveis de compensar os erros do passado. Algumas são construtivas e curam as feridas. Outras são tão brutais que compensam, mas não corrigem, e apenas afundam as almas ainda mais na ignorância, o que levará a mais compensações, que, por sua vez, corrigirão ou não a situação.

Estudante A:

Qual é, então, a alternativa?

Estudante B:

O axioma budista esclarece: “O ódio não se extingue pelo ódio, o ódio só se extingue pelo amor.” Assim, também, o sofrimento não se extingue pelo sofrimento, mas pela compreensão e pela ação correta. A função do movimento teosófico é elevar o nível do funcionamento da lei do carma, para que ela saia do círculo vicioso do ódio e da frustração que se realimentam.
A lei do carma precisa ser compreendida do ponto de vista da compaixão e da alma espiritual, ou não será compreendida. Não há lei do carma que justifique a injustiça praticada no instante presente. Não há carma que legitime a violência e o roubo praticados hoje. Não há carma que justifique a falta de piedade ou solidariedade. Se milhares de pessoas estão morrendo de fome neste momento na África, não há carma que justifique esta situação. Há explicações, seguramente. Nenhuma delas nos exime de agir solidariamente em relação à humanidade. O fato de que somos imperfeitos e de que nossa ação solidária será necessariamente falha tampouco justifica a indiferença ou a inação.

Estudante A:

Observo que os erros obedecem a um movimento pendular, compensando carmicamente uns aos outros. Mas você menciona que nem toda compensação serve para libertar a alma do erro.

Estudante B:

Erros diferentes compensam uns aos outros. Mas este “pêndulo de compensações” não é suficiente para corrigi-los. Na realidade, um erro não pode corrigir outro erro. Um erro só se corrige pela ação correta. Por isso devemos combater a fonte comum de todos os equívocos, e não apenas esta ou aquela ação errada isoladamente. E sem uma solidariedade profunda com quem sofre, não há nem pode haver uma compreensão autêntica da lei do carma. Quando observamos o processo vivo da interação entre Ignorância, Ilusão e Sofrimento, percebemos que é mais eficaz atuar a longo prazo, combatendo as CAUSAS do sofrimento coletivo, e plantando um Bom Carma de Sabedoria para Todos.

Estudante A:

Normalmente se pensa que o carma é uma relação com o passado. Nos diálogos do e-grupo SerAtento, porém, o carma é visto sobretudo como uma relação com o futuro.

Estudante B:

De fato, o carma mais importante é aquele que está sendo plantado a cada momento. Este é o leme que dá direção à vida. Por outro lado, uma parte fundamental do carma do momento presente consiste em saber como colhemos o carma maduro do passado.
A luz astral é sutil e não funciona mecanicamente. O modo como o carma maduro “aterrissará” na terceira dimensão do espaço-tempo convencional está em ABERTO, até o momento em que ele toca o chão do plano concreto. Se houver frustração e ódio ao colhê-lo, ele tomará forma de um modo. Se houver humildade, sabedoria e flexibilidade, será um processo diferente. A solidariedade no sofrimento faz uma diferença cármica decisiva para quem sofre, e também para quem é solidário. Solidariedade é uma energia búdica. Pertence ao eu superior. E, onde entra a inteligência da alma imortal, tudo se cura e todos se libertam interiormente, mesmo em meio a grandes dificuldades.

Estudante A:

Os omissos erram ao adotar a pose de sábios, como se fossem “demasiados santos para sujar as suas mãos com a defesa da ética”.

Estudante B:

Sem dúvida. Ao lavar as mãos com o ambíguo sabonete da omissão, eles sujam suas almas. É frio, e falso, o raciocínio segundo o qual “o carma dos outros não é meu carma”. É verdade que o carma tem uma forte dimensão individual, mas todos os carmas individuais interagem entre si o tempo todo. Acreditar na separação, pensando que não é preciso ser solidário, impede a ação da alma imortal, cuja inteligência é destituída da ideia ilusória de separação entre “meus interesses” e “interesses dos outros”.
“Tudo que é humano me diz respeito”, escreveu o pensador clássico Terêncio. Os numerosos exemplos de auto-sacrifício individual por uma causa nobre, presentes ao longo da história da humanidade, não surgem por acaso. Eles ocorrem porque o foco de consciência do indivíduo sábio está em sua alma espiritual e, portanto, o indivíduo já não vê distinção entre o que é bom para si mesmo e o que é bom para os outros.
Assim, quando a teosofia afirma que o passo inicial na caminhada é querer o bem da humanidade, ela está dizendo que a meta primeira de quem busca a sabedoria é erguer o foco da sua própria consciência até a alma espiritual. A alma superior busca a felicidade de todos os seres porque obedece, como por instinto, à Lei (cármica) da fraternidade universal.

Estudante A:

Esta visão parece exigir uma certa dose de ética e de coragem.

Estudante B:

Talvez. A atitude com que vivenciamos o sofrimento e a alegria é um fator decisivo. Vale a pena ter coragem diante do sofrimento próprio, solidariedade diante do sofrimento alheio, e humildade e moderação diante das nossas vitórias.

Estudante A:

Deste ponto de vista, a lei do carma é uma lei da ética e da solidariedade.

Estudante B:

Sem dúvida. Os aspectos individuais do carma perdem importância, à medida que a compaixão é reconhecida como a Grande Lição a ser aprendida com ajuda da Lei do Carma. Ao agir movido pela boa vontade, o indivíduo ainda errará, sem dúvida. Mas, errando, ele aprenderá; enquanto que aquele que se omite comete um erro do qual não se tira facilmente lição alguma.
O cidadão planetário sabe, por exemplo, que a devastação das florestas não é “um problema cármico das árvores, que devem ter cometido algum erro no passado”.
Estudando filosofia esotérica, o cidadão percebe que a teosofia original faz despertar nele um sentimento de co-responsabilidade universal. E ele compreende que este sentimento estará na base das próximas civilizações.

Estudante A:

Sabemos que além de boa vontade é preciso discernimento. Em que condições a ação solidária é eficaz?

Estudante B:

Em sua obra “Sobre o Dever” (Livro I, item XIV), o pensador clássico romano Marco Túlio Cícero estabelece três condições para uma ação generosa.
Em primeiro lugar, diz ele, a ação deve ser justa e não deve prejudicar ninguém. Em segundo lugar, ela deve ser proporcional aos meios e à possibilidade da pessoa que fará o bem. Finalmente, aquele que é objeto da generosidade deve merecer a ajuda. E é fácil ver que, do ponto de vista teosófico, ninguém merece mais ajuda do que o eu superior ou a alma imortal dos nossos semelhantes. O despertar da inteligência espiritual é a grande meta e também a necessidade histórica da evolução humana no século 21.