Muitos são os espíritas que não se interessam pelos fenômenos da alma. Chegam mesmo a desprezá-los, seja por não os compreenderem, seja por comodismo imobilista. Preferem um Espiritismo que enxergam como uma religião. E religião em moldes já ultrapassados: um ninho de certezas transcendentais, onde as pessoas se acomodem, fabriquem dogmas, intocáveis ortodoxias, carismas, mitos ... e bem delineados limites à investigação, por mais sadia e necessária que seja.
Cremos que a finalidade básica da Doutrina Espírita é redimir os homens. E redimir evangelizando-os, elevando-lhes os sentimentos e pensamentos, aperfeiçoando-os de modo a colocá-los em condições vibratórias que lhes permitam evolução espiritual rápida e segura. Não se deve desejar da Doutrina que ela transforme todos os homens em cientistas, pois a Ciência não é sinônimo de elevação espiritual; pelo contrário, é apenas instrumento desta. Sabe-se, à saciedade, que esforços intelectuais, pura e simplesmente, não levam à meta; áridos, despovoados de vivências, só passam a ter fecundidade quando submergidos na prática da caridade evangélica. Julgamos de fundamental importância, por isso, incrementar a faceta religiosa do Espiritismo por todos os modos e meios a nosso alcance, porque ela constitui um alicerce indestrutível para a elevação espiritual das criaturas e da Humanidade como um todo.
Cremos também que a religião, unindo a criatura ao Criador, deve ser entendida e vista em sua natural amplitude, isto é, dentro de um contexto cósmico. Precisa ser vivida de modo arejado, cada criatura se sentindo imersa em sua própria eternidade, aberta a horizontes infinitos, e ungida de fé inabalável - porque sempre pronta à iluminação, à pesquisa e ao aprendizado. Uma vez que a criatura vislumbre o Cristo Cósmico em si própria, a meta se torna próxima. E a atrai.
Cremos que a Doutrina Espírita, em respeito às próprias formulações e à ampla visão de seu Fundador, não deve enveredar pela trilha fácil e descendente dos decadentes. Estaríamos, assim, no bojo de mais uma religião estática, limitada por dogmatismos sectários e infestada de particularismos e personalismos rasteiros. Infelizmente, esta degradação já se esboça no Espiritismo. Em prejuízo do Espírito.
Cremos que a intolerância religiosa e o culto artificial da pureza doutrinária são incompatíveis com os horizontes da Doutrina dos Espíritos, dinâmica e sempre atual por sua própria natureza, ensejando progresso e aprendizado contínuos. Limitar-se ao passado, em nome de pureza e cânones ortodoxos, é voltar a cair no poço de onde KARDEC e os Espíritos quiseram tirar a Humanidade. Não podemos esquecer: foi, precisamente, invocando a pureza da Lei Mosaica, que o Sinédrio crucificou JESUS. A intolerância medieval também invocou a pureza dos ensinamentos de CRISTO para levar milhares de criaturas à morte, em fogueiras infamantes e cárceres infectos.
Não é possível o Amor sem Liberdade. O Amor à Verdade, também.
Este é o nosso prisma.
Jose Lacerda de Azevedo (Espirito e Matéria)
Um comentário:
GEPER disse...
Este texto me trouxe à mente do quanto somos responsáveis por aquilo que realizamos, quer no ponto de vista físico, pelas nossas ações, bem como sob o ponto de vista mental e espiritual! Devemos sim ressaltar a diferença existente entre religião e religiosidade. Esta compreensão nos coloca de frente com verdade! Nos mostra também o que seja altruísmo, qualidade que leva a nos aproximar de nosso Eu Superior, e assim podermos buscar nossa evolução.
É minha vontade que todos se sintam abraçados!
Tê.
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