quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Onde encontrar Deus

Deus está em nós e fora de nós, e pode-se dizer a mesma coisa do nosso Eu superior. A maior parte dos seres humanos não tem uma consciência suficientemente desenvolvida para sentir, dentro de si, a presença desta sublime entidade que é toda luz, todo amor e onipotência.
A primeira tarefa de um espiritualista é a de procurar, dentro de si, todas as pistas de tal presença, sabendo que é o seu verdadeiro eu.
Foi dito: ‘Conhece-te a ti mesmo!’
Para se conhecer verdadeiramente, é preciso se conhecer no alto, no mundo divino. Enquanto o ser humano não tiver tomado consciência de existir no alto como uma partícula da Divindade, nunca se conhecerá e não possuirá nenhuma qualidade divina. Conhecer-se significa encontrar-se a si mesmo e ao mesmo tempo encontrar Deus.
Quando se encontra Deus, encontra-se o amor, a luz, a liberdade, a alegria e não apenas dentro de si, mas em todos os seres humanos e também nos animais, nas plantas e nas pedras.
Quando Deus é encontrado em si mesmo, Ele é descoberto por toda a parte, em toda a natureza, e isto significa conhecer-se verdadeiramente.


- Omraam Mikhaël Aïvanhov -(1900-1986): Mestre espiritualista búlgaro, que morou a maior parte de sua vida na França, onde fundou a Fraternidade Branca Universal

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

NA TRILHA DA REFORMA INTERIOR

Toda transformação tem raizes no cotidiano, e não há melhor maneira de evoluir espiritualmente do que vivenciando, dia a dia, as proposições que conduzem o ser humano nesse sentido. Aqui são expostos alguns pontos básicos dessa jornada evolutiva.
O tempo é precioso. Os minutos, às vezes, até parecem escorrer lentamente. Mas uma vida inteira pode se derramar, com surpreendente rapidez, pela interminável repetição do momento presente que chamamos de "agora".
No plano material, nossa eternidade que é interior - não existe. O passado é feito de memórias; o futuro é imaginação. De instante em instante, escoa o tempo que nos é dado viver. O período de uma existência humana é relativamente breve e deve ser aproveitado da melhor forma possível.
A vida se enriquece quando ultrapassa a mera busca de conforto - seja físico, emocional ou mental. No entanto, isso requer disciplina, criatividade, desapego e um amplo conjunto de virtudes que cada indivíduo irá desenvolvendo, de acordo com suas próprias decisões, ao longo do tempo.
Para o dr. Jayadeva Yogendra, instrutor do The Yoga Institute, na índia, um programa pessoal para uma vida mais completa, voltada ao crescimento espintual, pressupõe os seguintes pontos básicos:
1) Aceitar as situações da vida - "Ioga é a arte de viver", diz ele. Na ioga, aprendemos a aceitar a vida como ela é, a buscar seu significado, a desenvolver confiança na natureza e no futuro. E preciso observar a realidade serenamente, sem as distorções do apego ou da rejeição.
2) Colocar nossos deveres numa escala de prioridades - Seja definindo prioridades ou compreendendo nossas próprias motivações, é indispensável estudar nossa natureza interior. Como me relaciono com a vida? Quando decido fazer algo, surge em mim um sentimento de dever? Posso cumprir meus deveres experimentando o prazer do trabalho bem-feito, sem esperar recompensas?
3) Participar plenamente da vida - A sinceridade, a devoção e a consciência do dever geram atenção e concentração. A estabilidade da nossa atitude mental deve ser cultivada. Assim, o significado do trabalho iniciado torna-se cada vez maior. Nosso nível de consciência passa por uma mudança sutil, mas abrangente.
4) Ampliar constantemente nossos horizontes - Devemos superar nossa visão limitada de nós mesmos e do mundo ao nosso redor. Fora dos muros de todo pensamento egoísta está a consciência mais ampla que dá o verdadeiro sentido à vida. É recomendável, portanto, avaliar constantemente nossa capacidade de deixar de lado nosso pequeno "eu". Devemos ter urna direção definida na vida porque a dispersão de metas impede uma existência com frutos mais duradouros.
Quando se pensa em um programa de autodesenvolvimento espiritual, o primeiro grande desafio é reunir a vontade necessária para colocá-lo em prática. Uma vontade concentrada e organizada será vitoriosa, a curto ou longo prazo, especialmente se a meta escolhida for pura e altruísta. Uma vontade dispersa ou dividida, em compensação, é garantia de indecisão e fracassos.
"Toda tendência da nossa vida moderna, com seus confortos", escreveu Clara Codd, "é destruir nossa vontade e nossa capacidade de resistência". Só tem vontade firme aquele que é capaz de dizer não a si mesmo e de enfrentar dificuldades, aquele que tem mais prazer em fazer a coisa certa que em fazer a coisa fácil.
No início, fazer o que é correto pode ser difícil. Com o tempo, torna-se um hábito agradável. A disciplina, no princípio, é como veneno, mas acaba co mo néctar, ensina o Bhagavad Gita. O fortalecimento da vontade é essencial. "0 homem auto-indulgente nunca pode vir a ser o santo, o iluminado, aquele que irradia Deus", explica Clara Codd.
Outro aspecto da vontade fraca é a indecisão. Ninguém com essa característica pode ser feliz por muito tempo. Tomada a decisão de seguir por um caminho, é preciso ir adiante mesmo que as emoções resmunguem o contrário. Depois de um bom tempo, pudesse fazer uma avaliação dos resultados e corrigir a estratégia, se necessário.
Fonte: Trecho extraído da publicação de Carlos Cardoso Aveline na revista Planeta - Abril 1997

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O Cultivo da Tranquilidade


O Cultivo da Tranquilidade

É Mais Eficaz Avançar Passo a Passo

Sílvia Lúcia de Oliveira


“Não faz nenhuma diferença o que nós fazemos;

o que importa é como nós fazemos qualquer coisa.

E como sempre há algo sendo feito, nós sempre

temos a oportunidade de fazê-lo corretamente.”

Robert Crosbie

O tempo parece-nos na maioria das vezes curto o suficiente para justificar a agonia de fazer tudo rápido, de um jeito qualquer, dispensando caprichos e reflexões que exigiriam mais alguns minutos. Escoando no atropelo, vamos alinhavando uma vida sem debruns e acabamentos. Deixa-se de lado o que parece à primeira vista ser dispensável, utilizando um critério de escolha que prioriza rapidez e sacrifica todos os demais quesitos. E sobe a pressão arterial aos solavancos de um viver turbinado de afazeres.

Fazemos as coisas sem nelas pensar, sem que nossa mente se permita sedimentar decisões, questionar sentidos e significados. Muito do estresse cotidiano e de suas conseqüências pessoais e coletivas é fruto desse tocar a vida ao ritmo de urgências fabricadas. A agitação física e mental estabelece um turbilhão de pensamentos simultâneos que turvam a atenção e sobrecarregam nosso sistema de raciocínio. Cansamo-nos mais, atrapalhamo-nos desejando abarcar vários assuntos num só ato. E pior, prosseguimos deixando coisas caírem pelo apressado caminho de nossa existência.

Entretanto, por mais que sejam atravessados momentos ou situações agitadas, a mente tranqüila sempre será mais capaz de buscar e encontrar as melhores alternativas, abreviando esforços e frustrações. Nossas ocupações podem ser adequadamente cumpridas na cadência dos dias, sem a necessidade de nos preocuparmos com o que possa eventualmente deixar de ser feito. O tempo mostrará se o que foi deixado para trás fará ou não falta. Na maioria absoluta das vezes, as pequenas falhas cotidianas não se transformarão em perdas irreparáveis.

Podemos fazer muitas coisas se nos permitirmos dar um passo de cada vez, um após o outro, sem nos desviarmos de metas propostas e procurando sempre a melhor forma possível. Com o pensamento liberto das pressões desnecessárias, conseguimos olhar a vida saboreando suas cores, seus sabores e principalmente estabelecendo importância adequada a cada momento.

A tranqüilidade é o fruto maduro de uma atitude de viver caprichosamente germinada nos pequenos atos e nas situações banais do dia a dia. Tranqüilidade se cultiva, com zelo e cuidado persistentes; não se compra pronta e nem se engole em cápsulas. Quando se alcança tal equilíbrio, se descobre uma serenidade profunda e duradoura, jamais conquistada com a química dos remédios.

Retornando às palavras iniciais de Crosbie, o que importa na vida é o modo como fazemos as coisas, independente de serem simples ou complexas; rotineiras ou não. O fundamental é caprichar, fazer bem feito e, como a pressa sempre foi inimiga da perfeição, manter sempre a calma e a preservar a tranqüilidade.

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A crônica acima foi publicada inicialmente na edição de 15 de maio de 2010 do jornal 'Agora', em Rio Grande, RS.


imagem: google