O pensamento humano avança. Cada século, cada povo segue um conceito de acordo com o desenvolvimento que obedece a leis a que estais submetidos. Em qualquer campo, a nova idéia vem sempre do Alto e é intuída pelo gênio. Depois, dela vos apoderais, a observais, a decompondes, a viveis, passando, então, à vossa vida e às leis.
Assim, desce a ideia e, quando se
fixa na matéria, já
esgotou seu ciclo,
já aproveitastes todo
seu suco e
a jogais fora
para absorverdes, em
vossa alma individual
e coletiva novo sopro divino.
Vosso século possuiu e desenvolveu
uma ideia toda própria que os séculos precedentes não viam, pois estavam
atentos em receber e desenvolver outras. Vossa ideia foi a ciência, com que
acreditastes descobrir o absoluto, embora essa também seja uma ideia relativa
que, esgotado seu ciclo, passa; eu venho falar-vos exatamente porque ela está
passando.
Vossa ciência lançou-se num beco
escuro, sem saída, onde vossa mente não tem amanhã. Que vos deu o último
século?
Máquinas como jamais o mundo as
teve (mas que, no entanto, são apenas máquinas) e, em compensação, ressecou
vossa alma.
Essa ciência passou como um
furacão destruidor de toda a fé e vos impõe, com a máscara do ceticismo, um
rosto sem alma. Sorris despreocupados,
mas vosso espírito
morre de tédio
e ouvem-se gritos
dilacerantes. Até vossa própria ciência
é uma espécie de desespero metódico, fatal, sem
mais esperanças. Terá ela resolvido o problema da dor? Que uso sabe fazer dos
poderosos meios que lhe deram
os segredos arrancados
da natureza? Em
vossas mãos, o
saber e a
força transformam-se sempre
em meios de destruição.
Para que
serve, então, o
saber, se ao
invés de impulsionar-vos para o
Alto, tornando-vos melhores, para vós se torna instrumento de perdição? Não
riais, ó céticos, que julgais ter resolvido tudo, porque sufocastes o grito de
vossa alma que anseia por subir! A dor vos persegue e vos encontrará em
qualquer lugar.
Sois crianças que julgais evitar o
perigo escondendo a cabeça e fechando os
olhos, mas existe
uma Lei, invisível
para vós, todavia
mais forte que
a rocha, mais
poderosa que o
furacão, que caminha inexorável
movimentando tudo, animando tudo; essa Lei é Deus. Ela está dentro de vós,
vossa vida é uma exteriorização dela e derramará sobre vós alegria ou dor, de
acordo com a justiça, como o merecerdes. Eis a síntese que vossa ciência,
perdida nos infinitos pormenores da análise, jamais poderá reconstituir. Eis a
visão unitária, a concepção apocalíptica que venho trazer-vos.
Para que
me possa fazer
compreender, é mister
que fale de
acordo com vossa mentalidade e me coloque no momento
psicológico que vosso século está vivendo. É indispensável que eu parta
justamente dos postulados da vossa ciência, para dar-lhe uma direção totalmente
nova.
Vosso sistema de pesquisa objetiva, à base da
observação e experiência, não vos pode levar além de certos resultados. Cada
meio pode fornecer certo rendimento e nada mais, e a razão é um meio. A análise
não poderia chegar à grande síntese, grande aspiração que ferve no fundo de
todas as almas, senão por meio de um tempo infinito, de que não dispondes.
Vossa ciência arrisca-se a não concluir jamais e o “ignorabimus” quer
dizer falência. A tarefa da ciência não pode ser apenas a de multiplicar vossas
comodidades.
Não estranguleis, não sufoqueis a luz de vosso espírito, única alegria e
centelha da vida, até o ponto de tornar a
ciência, que nasce
do vosso intelecto,
uma fábrica de
comodidades. Esta é prostituição
do espírito, é vergonhosa venda de vós mesmos à matéria.
A ciência pela ciência não tem
valor, vale apenas como meio de ascensão da vida. Vossa ciência tem um pecado
original: dirigir-se apenas à conquista do bem-estar material. A verdadeira
ciência deve ter como finalidade tornar melhores os homens. Eis a nova estrada
que precisa ser palmilhada. Essa é a minha ciência ².
* *
*
Não falo
para ostentar sabedoria
ou para satisfazer
a curiosidade humana,
vou direto ao
objetivo: para melhorar-vos moralmente, pois
venho para fazer-vos
o bem. Não
me vereis despender
qualquer esforço para
adaptar e enquadrar
meu pensamento ao pensamento
filosófico humano, ao
qual me referirei
o menos possível.
Ao contrário, ver-me-eis
permanecer continuamente em contato
com a fenomenologia
do universo. Importa escutar verdadeiramente essa
voz, que contém
o pensamento de Deus.
Compreendei-me, vós
que não acreditais,
vós céticos, que
julgais sabedoria a
ignorância das coisas
do espírito e, no entanto, admirais o esforço de conquista que o homem,
diariamente, exerce sobre as forças da natureza. Ensinar-vos-ei a vencer a
morte, a superar a dor, a viver na grandiosidade imensa de vossa vida eterna.
Não acorrereis com entusiasmo ao esforço
necessário para obter tão grandes resultados? Vamos, pois, homens de boa vontade, ouvi-me! Primeiro
compreendei-me com o intelecto e quando este ficar iluminado e virdes
claramente a nova estrada que vos traço, palpitará também vosso coração e nele
se acenderá a chama da paixão, para que a luz se transmude em vida e o conceito
em ação.
O momento é crítico, mas
é mister avançar.
E então (coisa incrível para a construção psicológica que o último
século imprimiu em vós) nova verdade
vos é comunicada
por meios que desconheceis, para
que possais descobrir o novo caminho.
O Alto, que vos é invisível, nunca
deixou de intervir nos momentos culminantes da História. Que sabeis do amanhã,
que sabeis da razão por que vos falo?
Que podeis imaginar daquilo que
o tempo vos
prepara, vós, que
estais imersos no
átimo fugidio?
Indispensável avançar, mais que
isso não vos seria possível. As vias da arte, da literatura, da ciência, da
vida social estão fechadas, sem amanhã.
Não tendes mais o alimento
do espírito e
remastigais coisas velhas
que já são
produtos de refugo
e devem ser expelidos da vida. Falarei do espírito e
vos reabrirei aquela estrada para o infinito, que a razão e a ciência vos
fecharam.
Ouvi-me, pois. A razão que
utilizais é um instrumento que possuís para prover os misteres, as necessidades
mais externas da vida: conservação do indivíduo e da espécie.
Quando lançais este instrumento no
grande mar do conhecimento, ele se perde, porque neste campo, os sentidos (que
muito servem para vossas necessidades imediatas) somente esfloram a superfície
das coisas e sua incapacidade absoluta de penetrar a essência vós a sentis. A
observação e a experiência, de fato, deram-vos apenas resultados exteriores de
índole prática, mas a realidade
profunda vos escapa
porque o uso
dos sentidos como
instrumento de pesquisa, embora ajudado por meios adequados,
vos fará permanecer sempre na superfície, fechando-vos o caminho do progresso.
Para avançar ainda, é preciso
despertar, educar, desenvolver uma faculdade mais profunda: a intuição. Aqui
entram em função elementos complementares novos
para vós.
Algum cientista jamais pensou que, para
compreender um fenômeno,
fosse indispensável a própria purificação moral? Partindo da negação e
da dúvida, a ciência colocou a priori uma barreira intransponível entre o
espírito do observador e o fenômeno. O
eu que observa permanece sempre intimamente estranho ao fenômeno, atingido apenas
pela estrada estreita dos sentidos. Jamais o cientista abriu sua alma, para que
o mistério encarasse o próprio mistério e se comunicassem e se compreendessem.
O cientista jamais pensou que é preciso amar o fenômeno, tornar-se o fenômeno
observado vivê-lo; é indispensável
transportar o próprio
Eu, com sua
sensibilidade, até o
centro do fenômeno,
não apenas com
uma comunhão, mas com uma verdadeira transfusão de alma.
Compreendeis-me? Nem todos poderão
compreender, pois ignoram o grande princípio do amor; ignoram que a matéria é, em
todas as suas formas (até nas menores) sustentada, guiada, organizada pelo
espírito que, em diversos graus de manifestação, existe por toda a
parte.
Para compreender a essência
das coisas, tereis
que abrir as
portas de vossa
alma e estabelecer,
pelos caminhos do espírito,
essa comunicação interior,
entre espírito e
espírito; deveis sentir
a unidade da
vida que irmana todos os seres, desde o mineral até o homem, em trocas de
interdependências, numa lei comum; deveis sentir esse liame de amor com todas as
outras formas da vida, porque tudo, desde o fenômeno químico até o social, é
vida, regida por um princípio
espiritual.
Para compreender, é necessário que
possuais uma alma pura e que um liame de simpatia vos una a todo o criado.
A ciência ri de tudo isso e por
esse motivo deve limitar-se a produzir comodidades e nada mais.
Nisto que vos estou a dizer reside
exatamente a nova orientação que a personalidade humana deve conseguir, para
poder avançar.
extraído do livro: A Grande Síntese - Pietro Ubaldi
1 - V. o volume Grandes Mensagens. (1.1)
2 - Para
compreender esse estilo
incomum, é necessário
conhecer a técnica
da gênese deste
pensamento, mediante a
leitura de outros volumes, os primeiros, pertencentes à
obra. (1.7)